quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Nássara

Neste 11 de setembro, além do trágico ataque às torres gêmeas, também me veio o número [11], cabalístico.
Lembra-me [também] a polemica entre o dia do nascimento de Antonio (sem acento) Nássara, caricaturista-compositor carioca [depois adicionou Gabriel ao nome]. Enciclopedias dizem 11 de novembro de 1910 mais certo é que é 12 de novembro de 1909 que o próprio Nássara contrariou...
Seus desenhos mais parecem aqueles bonecos japoneses que nem a PUCA... Legendário compositor de dezenas de sucessos do carnaval do Rio antigo [compôs 232 músicas, especialmente sambas e marchas]. Há décadas quase surdo. Como desenhista fez charges, caricaturas e cartuns. Dizia que se preferia ser caricaturista e ex-programador visual de vários jornais cariocas – a músico. Mas raramente falava do seu trabalho gráfico preferindo os encontros no mundo musical.

Nássara, com pseudônimo de Luiz Antonio (1932), também escreveu o primeiro jingle feito no Brasil, num programa radiofônico chamado “Casé” de Ademar Casé, pernambucano, que viera ao Rio vencer na vida, o programa foi seu salto à frente e para cima, com suas próprias economias alugou um horário de domingo à noite, por 19 anos e depois associou-se a Assis Chateaubriand na criação da primeira emissora de televisão do Brasil. Sem dúvida, um homem pioneiro em tudo que fazia esse tal Ademar.
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Pai do arquiteto Paulo Casé, do diretor Geraldo Casé, do publicitário Maurício Casé e avô da atriz e apresentadora Regina Casé. Nássara escreveu um jingle para um português, Albino, dono de uma padaria muito famosa na época chamada Bragança, para servir como um dos patrocinadores do programa. O programa quase acabou não fosse o surgimento de dois patrocinadores de peso, Uma loja de eletrodomésticos da Av. Rio Branco, a R. F. Moreira; outro dos Laboratórios Queiroz de São Paulo. Aos dois a cultura brasileira agradece a continuidade do Programa Casé. Para o segundo patrocinador, fabricante do Mano Purgativo, Nássara também faria outro gingle de humor irreverente, uma sátira aos costumes.
A crônica da noiva enfezada merece estar entre as obras de Nássara. No quarto volume de sua História da caricatura no Brasil, Herman Lima dedica a Nássara 13 páginas do 13o capitulo: os modernos. Era, na verdade, funcionário como diagramador. Seus originais, tantas vezes retocados com guache branco, são em preto e branco, a nanquim (traçado a tira-linhas de desenho técnico). O atestado disso é todo o seu trabalho, fino desenhos com linhas grossíssimas e economia de elementos, - exigência para a publicação reduzida nas colunas de jornais (cerca 4 cm).
Morreu numa quarta-feira 11 de dezembro de 1996 aos 87 anos, dia do aniversário do amigo-parceiro Noel Rosa.
Com Iracema (sua esposa), por volta de 1950.

Ótima coletânea organizada por Loredano em 1986 (já difícil de encontrar) para entender o impacto da obra daquele que Millôr Fernandes definiu como “o Mondrian do portrait-charge”. Com vários desenhos de Nássara.

O pesquisador Carlos Didier é o mais recente a se debruçar sobre a vida e a carreira do artista, em “Nássara Passado a Limpo” (José Olympio Editora, 252 págs., R$ 35,00). Seu livro acrescenta informações e histórias a outros dois títulos, hoje só encontrados em sebos – “Nássara – O perfeito fazedor de artes”, de Isabel Lustosa, e “Nássara, desenhista”, de Cássio Loredano.

Diniz Botelho (dinizbotelho.blogspot.com)

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